ONU prevê quebra de 8,5 biliões dólares para a economia mundial nos próximos 2 anos

No contexto de uma pandemia devastadora, a economia global deverá contrair 3,2% este ano, de acordo com o relatório intercalar de 2020 sobre a Situação Económica Mundial e Perspetivas das Nações Unidas (WESP), divulgado esta quarta-feira.

Segundo o documento, a economia global deverá perder quase 8,5 biliões de dólares nos próximos dois anos devido à pandemia da covid-19, eliminando quase todos os ganhos dos últimos quatro anos.

A forte contração económica, a maior desde a Grande Depressão da década de 1930, substitui assim as previsões económicas de um crescimento de 2,1% feitas no início do ano.

O relatório estima que o crescimento do PIB nas economias desenvolvidas caia 5% em 2020. Um crescimento modesto de 3,4% – apenas o suficiente para compensar a perda de produção – é esperado em 2021. Prevê-se que o comércio mundial contraia quase 15% em 2020, devido à diminuição da procura global e às perturbações nas cadeias de abastecimento. Quase 90% da economia mundial está sob algum tipo de bloqueio, interrompendo as cadeias de abastecimento, deprimindo a procura dos consumidores e colocando milhões de pessoas sem trabalho. As economias desenvolvidas deverão contrair 5% em 2020, enquanto a produção dos países em desenvolvimento diminuirá 0,7%. 

A pandemia está a acentuar a pobreza e as desigualdades

De acordo com estas previsões, a pandemia provavelmente fará com que cerca de 34,3 milhões de pessoas caiam abaixo da linha de extrema pobreza em 2020, com 56% desse aumento a ter lugar nos países africanos. Outros 130 milhões de pessoas podem juntar as fileiras dos que vivem em pobreza extrema até 2030, causando um enorme golpe nos esforços globais para erradicar a extrema pobreza e a fome.

A pandemia, que está a afetar desproporcionalmente os empregos de baixas qualificações e de salários baixos, ampliará ainda mais a desigualdade de rendimentos dentro e entre os países. Perante uma crise sanitária, social e económica sem precedentes, governos em todo o mundo adotaram grandes medidas de estímulo orçamental – equivalentes a cerca de 10% do PIB – para combater a pandemia e minimizar os seus impactos nos meios de subsistência.

No entanto, a profundidade e a gravidade da crise deixam adivinhar uma recuperação lenta e dolorosa. O economista-chefe da ONU e secretário-geral adjunto para o Desenvolvimento Económico, Elliott Harris, considera que

“o ritmo e a força da recuperação da crise não dependem apenas da eficácia das medidas de saúde pública para retardar a propagação do vírus, mas também da capacidade dos países em proteger empregos e rendimentos, principalmente dos membros mais vulneráveis das nossas sociedades.”

 A crise provavelmente acelerará a mudança para a digitalização

O relatório destaca ainda que a pandemia poderia promover uma nova normalidade, uma interação humana radicalmente diferente, acelerando a digitalização e a automação. Um rápido aumento nas atividades económicas online provavelmente eliminará muitos empregos existentes, ao mesmo tempo que cria novos empregos na economia digital.

ONU News